O que nossas “músicas da vez” dizem sobre nós

ATENÇÃO: sim, eu divago no texto, mas é para apresentar o meu ponto da forma que eu acho melhor. Não venha reclamar depois que eu não vou responder de forma educada (ou me dar ao trabalho de responder)

Você já parou para pensar o quanto as músicas de que mais gostamos podem dizer muito sobre nós? Podem dizer sobre quem somos, sobre a fase da vida em que nos encontramos, sobre nosso estado emocional (especialmente quando não conseguimos contar para ninguém exatamente como nos sentimos porque não encontramos as palavras certas). E, por mais que tenhamos músicas preferidas, as que mais ouvimos (ou precisamos ouvir) mudam com o tempo. Claro, sempre vai haver aquela música ou aquela banda ou enfim que tem um canto especial reservado só para ela. Mas isso não significa que sempre nos identificamos com ela, só que ela significa algo para nós, que ela nos encantou de alguma forma maior que as demais.

E, mesmo assim, nem sempre queremos ouvi-la.

Mas de onde veio essa filosofia toda sobre músicas de repente?

Pura e simplesmente porque ultimamente eu tenho escutado a mesma música em loop. E não foi a primeira vez. Mais do que isso, eu percebi que ela segue o mesmo tema que a música que eu estava ouvindo em loop alguns meses atrás. E, apesar de eu muitas vezes deixar a minha lista do Spotify no aleatório e só ir trocando de música quando não quiser ouvir determinada coisa, muitas vezes têm sido as mesmas músicas que me fizeram pensar “eu quero muito ouvir isso hoje” ou “eu me identifico tanto com essa letra”.

Nos últimos meses (não apenas, mas com uma frequência maior), eu tenho me perguntado o que eu quero fazer da minha vida. A faculdade está acabando, ao menos em teoria, mas eu não consigo focar no último passo: meu TCC. Não que o tema não me interesse ou porque eu o acho irrelevante. A verdade é exatamente o oposto. Então eu não conseguia entender o motivo de eu não conseguir olhar para o meu TCC e sentir vontade de investir nele.

A resposta é, para ser bem sincera, muito simples.

O problema não é o TCC, é o que ele carrega e o que ele representa. Ele representa a conquista de um diploma que eu não faço questão de ter. Ele carrega um peso de responsabilidade que se sobrepõe à importância do tema e do aprendizado. Mas, mais que isso, ele é posto como a maior obrigatoriedade acadêmica. Ninguém se importa se você gosta do tema, se você quer fazer aquilo daquela forma, se o tema é importante. Se você seguir o manual, eles não pedem mais nada. É o maior de todos os “faça por fazer”. Sim, eu entendo a importância do TCC, não é isso que eu estou questionando. Eu estou questionando a forma como ele é tratado. Não importa tudo o mais que você possa ter aprendido na faculdade. Não importa quão feliz essa última tarefa te faça ou deixe de fazer.

Se você não for capaz de fazer, seu valor como pessoa socialmente falando cai drasticamente.

Então eu estou, no âmbito acadêmico, basicamente fazendo um trabalho que, apesar de ter tudo para me motivar, me deixa com vontade de jogar tudo para o alto. Mas não é apenas isso

As coisas acumulam.

Além da obrigação de terminar a faculdade, há sobre pessoas da minha geração uma pressão social enorme para conseguir conquistar tudo que nossos pais conquistaram e sermos melhores. Afinal, eles investiram pesadamente em nós e, no tempo deles, com menos escolaridade e facilidades, eles já tinham casa e emprego na nossa idade. O problema é que todo o contexto que os envolvia (social, econômico e político) era outro. Por mais que nos matemos de estudar, ter apenas um diploma não basta. A menos que você tenha uma série interminável de cursos e estágios (em geral não remunerados ou mal pagos), sua qualificação parece nunca ser o bastante. Se você não sabe inglês, suas chances caem drasticamente de conseguir qualquer coisa. Mesmo as vagas mais simples, cujas exigências deveriam ser bem menores, hoje têm requisitos absurdos e incompatíveis.

Exige-se daquele que entra no mercado de trabalho o mesmo nível de habilidade e capacidade daquele que já está no mercado. Esquece-se que essa experiência toda vem com o tempo e com as oportunidades de aprender. Talvez nós não estejamos tão preparados quanto devêssemos para o mercado de trabalho. Mas o mercado de trabalho também não está preparado para nós. Nós somos pessoas recém formadas ou a ponto de nos formarmos. Não adianta exigirem que tenhamos uma experiência que é incompatível com o que nos é oferecido.

Mesmo assim, um discurso recorrente nas famílias com pessoas da minha geração é o “na sua idade, eu já tinha saído da casa dos meus pais e conseguia me sustentar”.

Quantas pessoas você conhece que estão nessa situação? Que fazem/fizeram uma faculdade que odeiam e que têm pais que parecem incapazes de compreender que o mundo mudou?

Sim, eu sei, eles têm as melhores das intenções para nós. Mas isso não basta. Não mais.

Ta, mas o que isso tudo tem a ver com músicas?

Naturalmente, nada faz sentido ainda. Não é para fazer. A ideia não está pronta. Você vai ter que me aguentar filosofando e explicando mais um pouco. Ou você pode pular para o final do texto, quem sou eu para impedir? Mas eu acho que vai ser perda sua, porque essa é uma discussão importante em sua totalidade. Por isso, vamos continuar.

Com todas essas expectativas, com toda essa insatisfação, quantas pessoas vocês conhecem que conseguem se dar lindamente bem com os pais? A decepção dos pais para com os filhos costuma ser algo constante e sufocante. Mas não são apenas essas as expectativas que nós temos de atingir.

Nós temos que ser capazes de manter nossa saúde física e mental em dia, mesmo que tenhamos poucas horas disponíveis para isso. Você come de forma saudável? Você pratica exercícios? Seus exames estão em dia? Você tem dormido o bastante? Acredite, se você estiver levemente fora do padrão, alguém na sua família vai ver isso como o fim do mundo e, eventualmente, isso vai cair no seu colo. Dos meus amigos mais próximos (e mesmo na esfera de conhecidos), a maioria sofre com os pais repetindo incansavelmente que eles estão gordos/deviam emagrecer, que eles não estão comendo bem o bastante (mas nada de abusar! Sabe aquele sorvetinho que você queria? Esquece. Sabe quantas calorias aquilo tem? É), que eles não praticam atividade o bastante. Mas não se esqueça de fazer as lições da faculdade, de passar nas provas (você quer um mestrado? Se sua ponderada não for PELO MENOS 7, esquece. Cresci ouvindo que os professores nem olham seu currículo ou qualificações se você não for capaz de manter um 7 na faculdade), de conseguir um estágio e, quando for o tempo, procurar/garantir um emprego.

Também não esqueça de cuidar da sua aparência, porque ninguém gosta de gente relaxada e a primeira impressão, desde a entrevista, é muito importante. Nada de jeans e camiseta. Onde já se viu trabalhar de jeans e camiseta?

E não desista da faculdade. Onde já se viu desistir da faculdade? Como assim você odeia o seu curso, deixa de falar bobagem. E como assim você acha que vai enlouquecer por causa das aulas? Você só estuda, deixa disso.

Tudo isso são coisas que eu cresci ouvindo dos meus pais e de parentes em geral (em graus diferentes, mas ainda assim).

Soa familiar?

E onde isso me deixa? O que isso tudo significa para mim? Como eu consigo manejar tudo isso? Como, afinal, sobreviver?

Um ponto importante aqui é a socialização. Não se isole. Por mais que as pessoas te cansem, talvez o problema não seja estar com pessoas, mas o tipo de pessoa com que você está. Cerque-se de pessoas que te entendam e que te apoiem, mas que também saibam quando por limites. Enfrentar tudo sozinho é muito difícil.

Faça uma coisa de cada vez e lembre-se de respirar. Tente não por mais pressão sobre você mesmo. Já tem gente demais fazendo isso, não acha?

Mas, tão importante quanto tudo isso, é achar formas de se expressar. De conseguir identificar como você se sente e não se sentir tão sozinho nessa situação toda. De se motivar a continuar. E é aqui que as mais diferentes formas de expressão artística entram. Filmes, séries, pinturas, músicas, poemas, livros, fotografias, o que você quiser.

A arte nos permite expor nossos sentimentos e pensamentos de forma mais livre e nos comunicarmos uns com os outros de forma muito mais ampla. Ela nos permite saber que alguém, em algum lugar, conseguiu expressar aquilo que sentimos e teve a coragem de se expor ao mundo. Ela nos permite pegar palavras e imagens emprestadas para melhor nos expressarmos. Quantas vezes não recomendamos filmes, séries, livros e músicas aos nossos amigos/conhecidos/colegas/parentes/etc? Quantas vezes a recomendação não quer dizer alguma coisa?

E, no momento em que eu estou na minha vida, músicas têm sido uma forma de comunicação e união extremamente eficiente. Têm sido uma forma de reflexão e conforto. Quem não gosta de ouvir uma música? Mais ainda, quem não gosta de ouvir uma música que, de alguma forma, mexa conosco? Seja para relaxarmos, seja para nos expressarmos, seja para o que for. A música tem um poder só dela de nos afetar, assim como qualquer expressão artística.

A diferença é que, muitas vezes, uma música é muito mais acessível. Talvez até menos trabalhosa (não na produção, mas na “utilização”. Você liga a caixa de som/põe o fone e só… Deixa rolar. Não precisa de muita coisa).

E as de que eu mais tenho precisado nesse momento tão cheio de pressões e expectativas na minha vida falam justamente da insatisfação com a vida que se tem, da vontade de sair e descobrir novos horizontes, da resiliência e resistência diante de tudo isso, de se conhecer. Falam de como as coisas mudam, de como nós mudamos e, com isso, as nossas necessidades. Nós precisamos nos dar asas para voar. Nós precisamos aguentar e levantar toda vez que nos derrubam. Nós precisamos passar pelo nosso próprio caminho do autoconhecimento. Mas, mais do que tudo, nós precisamos saber que não estamos sozinhos nessa situação e que, no fim, nós vamos conseguir.

Se vocês quiserem saber o que eu ando ouvindo, fica a lista (e sim, eu amei “Moana” e a trilha sonora):

  • How far I’ll go (Auli’i Cravalho), do filme “Moana”
  • Know who you are (Auli’i Cravalho), do filme “Moana”
  • I am Moana (Auli’i Cravalho&Rachel House), do filme “Moana”
  • Defying Gravity (Idina Menzel), da peça “Wicked” (eu nunca vi, só ouvi a música mesmo)
  • I’m still standing (Taron Egerton), do filme “Sing” (eu nunca vi, só ouvi a música mesmo. E sim, eu sei que a música original é do Elton John, mas eu gosto muito mais da versão do filme)
  • It’s not right for you (The Script)
  • Superheroes (The Script)

Se vocês prestarem atenção nas letras, vão perceber que elas se encaixam em muitos contextos, não apenas esse momento de autoconhecimento e decepção generalizada por não termos realizado nossos sonhos ainda. Mas essa é uma das belezas da música, ela é eterna e atemporal. Mesmo que ela não se encaixe em uma determinada época, em alguns anos (algumas décadas, talvez), ela pode voltar a fazer todo sentido.

No final, o que importa é que nós ainda estamos de pé, que um dia saberemos quão longe podemos ir. Algumas coisas nós não podemos mudar, mas só vamos saber quando tentarmos, não é? Não seguir nossos sonhos nos mata por dentro, mas nós estamos nos esforçando para fazer as coisas certas e é assim que super-herois aprendem a voar.

Kissu,

Kuma

P.S.: a intenção, originalmente, era fazer um texto mais focado nas músicas e suas mensagens, mas, enquanto escrevia, achei que seria melhor contextualizar mais e acabou saindo assim. Não  me incomoda, porque eu acredito que assim ficou mais sincero e mais pessoas podem entender a ideia. Eu também acredito que, quando escrevemos, as palavras se tornam um tanto independente de nós e guiam o texto para onde ele precisa ir. Nós apenas fornecemos a ideia principal. No caso, como ouvirmos certas músicas pode refletir o contexto em que estamos inseridos.

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Sobre Rikuki

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