Minhas pernas livres!

Pra começar, quero deixar bem claro que a ideia inicial surgiu por causa do USP de Saia! (para os que não sabem do que se trata, tudo surgiu com isso e levou vários alunos a protestarem, de forma que no dia 16/05/2013 ficou combinado o evento USP de Saia!, em que todos iriam de saia, um sinal de apoio à liberdade de expressão e contra o preconceito). Afinal, qual é o problema de vestir uma saia? Seja homem ou mulher. Aliás, levante a mão quem sabia que a saia é, originalmente, uma vestimenta masculina.

Mas o que quero tratar não é o uso da saia em si, mas a liberdade de expressão das pessoas em se tratando do que vestir e do que isso representa. Assim como se tem a liberdade de se fazer o que quiser com o próprio cabelo (mesmo que algumas coisas fiquem, para alguns ou para a maioria, feias), mesmo com o próprio corpo (piercing, tatuagem, mesmo a cirurgia plástica ou qualquer outra coisa), por que não podemos nos vestir como quisermos?

“Mas as pessoas precisam se valorizar. As mulheres, especialmente, precisam se valorizar”.

Ok, o que é “se valorizar”? Cobrir as pernas, a bunda, o peito e andar como freira na rua? Uma pessoa pode se dar valor e andar com roupas provocantes, por que não? Há quem goste, há quem não goste. De que forma isso nos dá o direito de julgar o que o outro escolheu para usar? Claro, acho que há um limite e ele se chama “pudor”, não “valorização”. Afinal, por mais que você queira expor o seu corpo, ninguém é obrigado a ver, por exemplo, seus mamilos. Quer usar decote, use. Mas entenda que algumas pessoas olharão feio. Pode ser por preconceito (provavelmente será) ou porque há um desconforto em ver tanto do corpo de um estranho. Digo, algumas coisas devem ser vistas apenas em situações específicas, não é?

De qualquer forma, imagine uma pessoa usar um short que mais pareça um cinto de tão curto e uma que use uma saia que vá até os tornozelos. Qual das duas está dando a permissão para quem quer que seja de passar a mão no corpo dela ou de chamá-la de qualquer nome que seja? Aposto que você pensou na primeira. Afinal, se ela está usando roupas assim, ela quer que as pessoas façam algo do gênero, certo?

Errado.

Cada um tem seus motivos, mas nada, absolutamente nada, justifica abusar de uma pessoa só por causa do jeito dela de se vestir. É extremamente desconfortável andar na rua e de repente sentir alguém pegando na sua bunda. Dependendo do grau de intimidade, a gente não deixa nem os amigos fazerem isso. Que dirá gostar quando um estranho o faz! Se a simples invasão do espaço pessoal pode gerar desconforto e é errado, imagine você ir a uma festa/balada/o que for e ter as roupas arrancadas.

Sim, estou falando das mulheres no baile funk que tiveram as roupas arrancadas.

Elas não mereciam aquilo. A menos que a própria pessoa queira se despir para a outra ou então peça para ter as roupas tiradas, nada justifica despir outra pessoa. Muito menos usando da força. Imagine a humilhação que isso traz. E o que você veste não determina o que você quer que as pessoas façam com você. O que você veste indica apenas o que você se sente confortável usando.

Geralmente (até onde eu sei), as pessoas que se vestem assim querem atenção. Olhares, assobios. Talvez até se sintam bem com as pessoas gritando que elas são gostosas e afins. Mas de jeito algum significa “venha me tocar”, muito menos passar disso.

O que nos leva a um assunto mais sério.

Estupro.

Eu sei, o assunto ta ficando pesado e parece que eu estou fugindo do tema. Vocês vão perceber que não (eu espero).

A culpa não é, nunca, da vítima. Não é porque ela se veste de um jeito x, porque ela não diz que “não” ou o que quer que seja que ela está pedindo para ter uma relação sexual não consensual.  Quantas pessoas não dizem para os amigos, para os filhos “não use uma roupa assim ou assado porque você será estuprado (a)”? Quantas não ouvem isso? Quantas vezes não ouvimos “ah, fulano (a) estava usando uma roupa chamativa, quis que acontecesse”. Meu deus! Ninguém quer passar pelo trauma de ser abusado, de ter o corpo invadido, geralmente com violência, com ameaça, com abuso (e não me refiro só ao físico).

Uma roupa não diz “me invada”, não diz “me estupre”. Uma saia curta não estupra (vi essa frase em algum lugar, mas não salvei a referência. Se alguém tiver, agradeço). E é por isso que eu não fugi do assunto. Dizer que uma pessoa pediu para ser abusada, pior ainda se disser que ela pediu para ser estuprada, por causa da roupa que ela decidiu usar é a mesma coisa que dizer “você não tem a liberdade de se vestir como quer”.

As pessoas dizem “não seja estuprada (o)” quando deveriam dizer “não estupre”. Porque é muito mais fácil culpar aquele que não se veste como a sociedade acha aceitável. E o que é se vestir aceitavelmente? Aliás, isso me lembra de um texto que eu li uma vez (pra quem quiser o link: http://www.feministacansada.com/post/47911591232)… Enfim, não vamos deixar o assunto mais pesado. Para encerrar, deixo apenas mais uma coisa, especialmente para aqueles que acham que a culpa é da vítima: http://projectunbreakable.tumblr.com/ (é algo pesado, mas lindo de se ver. Esteja preparado ao abrir o link).

E decidi chamar o texto de “Minhas pernas livres!” justamente por causa do lance da saia. Aliás, se o homem souber escolher, ele pode ficar realmente bonito! Porque, afinal, o corpo é de cada um e cada um tem o direito de se vestir como quiser.

Kissu,

Kuma.

P.S.: àqueles que se incomodaram com o ar pesado que o texto ganhou, devo dizer que não consigo separar muito as duas coisas. Para mim, falar da liberdade para se vestir como quiser está direta e profundamente relacionado com o abuso e tudo o mais. É a minha opinião.

Sobre Rikuki

Três garotas bloggando pra passar o tempo =)
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2 respostas para Minhas pernas livres!

  1. cacau =^.^= disse:

    Tem cada cara que ficou GATO de saia, vou te contar.

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